sábado, outubro 29, 2011

Ausência de luz solar.

O que parece forte e inabalável à luz solar, com o cair da noite se torna frágil e fraco. A noite não passa de uma cortina escura que, ao mesmo tempo que nos separa da plateia, nos deixa à vontade para agir naturalmente nos bastidores.  É como se o pôr-do-sol fosse a chave que abre a porta dos sentimentos e que também prende a razão numa cela. Como se a noite fosse a verdade, que espera que a beleza sair de campo e se mostra integral, nua, crua e, às vezes, não muito bela.

segunda-feira, outubro 24, 2011

Sobre simplicidade e gotas de chuva.


Milhas e milhas a frente. Um curva à direita, outra à esquerda. Um grande caminho aparece. E tu o percorres. Calma e silenciosamente. Sem pensar n'outra coisa, a não ser o que buscas.

Começam as gotas. Tu te apressas. E como se tudo fosse acabar em um segundo, tu corres.  Sem pensar, sem saber. Tu corres em busca da felicidade. 

Pra que, me diga? O que te impede de verdes que ela já chegou? O que te impede de verdes que ela sempre esteve ali? O pior cego é o que vê somente o que os olhos enxergam.

Molha-te. Vive. Sente esta chuva. Delicia-te com o tato. Vê que estais vivo. Percebe-te.

Sê, apenas sê.

sábado, outubro 01, 2011

Sobre direitos e deveres.


De um lado do vidro, uns brincam com aparelhos eletrônicos de última geração  recém ganhos dos pais, gozando de plena saúde e felicidade, sempre reclamando dos pequenos desprazeres de sua vida "infeliz" e "chata". Do outro, na mesma faixa etária, pequenos mal vestidos fazem malabares e vendem chiclete em frente aos carros para ganhar, quem sabe, dinheiro para comer. Eis a situação lastimável em que se encontra o Brasil.
O direito à alimentação, moradia, cuidado, o direito à saúde e, primordialmente, o direito à vida, nem sempre são respeitados nesse país, apesar de garantidos em constituição. Nos padrões da realidade atual, é muito fácil encontrar morte, fome, falta de abrigo e de saúde, antes de qualquer outra coisa pelas ruas das grandes metrópoles.
Nada mais que leiga, a população julga os moleques que vivem na rua como se todos fossem criminosos, malfeitores. É aí que se enganam. Nesse caso, aplica-se o que Rousseau dizia: o homem nasce bom, mas é corrompido pela sociedade. Grande parte da criminalidade praticada por crianças e adolescentes de baixa renda certamente é por falta de opção.
O governo, no seu papel de protetor, é falho. De que adianta um estatuto que garante direitos e mais direitos se, na hora de aplicar, não o faz corretamente? Se o Estado cumprisse seu dever primeiro, o de fazer valer os direitos do povo, certamente não encontraria-se pequenos agindo fora da lei, muito menos enchendo as filas de hospital por causa de problemas de saúde que poderiam ser facilmente evitados.
Mesmo sendo grave, o problema ainda é passível de solução: uma população melhor instruída, por exemplo, seria algo que ajudaria no combate aos maus tratos com adolescentes e crianças. A educação, fator importantíssimo para a formação de caráter de futuros pais e educadores, não é tratada com a devida importância. Nem a nação, nem o Estado dá o valor adequado, quando esta poderia ser a linha de separação entre uma mãe dedicada e uma mãe negligente. Na realidade, o Brasil precisa mesmo é de uma revolução. Urgentemente.

terça-feira, setembro 27, 2011

Filosofia: amor à sabedoria.

Certa feita, conversando com um amigo, cheguei à uma conclusão muito interessante sobre o modo que me sinto com relação à escrita.
Disse à ele: "Engraçado. O que eu escrevo está estritamente relacionado ao que leio. Veja meu blog: no início, lia Paulo Coelho e, assim como o Mago, tentava ser simples e mística ao mesmo tempo. Algum tempo depois, ao conhecer a poesia de Drummond e Manuel Bandeira, o amor e a melancolia igualmente tomaram conta desta página. Mais tarde, porém, encantada no realismo Machadiano e nas críticas de Goethe e Dostoiévski, posso notar um amadurecimento enorme e, até mesmo, um desdém pelos sentimentos... É como se vivesse de fases."
Meu amigo, curioso, pediu: "E agora, o que lê?". Eu respondi: "Leio Nietzsche."
Mais uma vez, ele pede: "E o que escreve?". Respondi, então: "Não escrevo."
E de certo modo, é isso que acontece. A literatura em si é um banho de inspiração... um mergulho profundo na própria mente, uma viagem. Mas a filosofia... ah, a filosofia! Esta  leva para caminhos tão novos e insanos, tão nunca imaginados, que a possibilidade de expôr em palavras o que se revela diante dos olhos é nula.
É como se fosse um passeio tão vivo e vibrante que se torna impossível parar um tempo e, sensatamente, descrevê-lo.

domingo, agosto 14, 2011

Gênios serão sempre gênios.

"Andando" internet à dentro, achei um trecho de Goethe sobre um assunto que já falei aqui no blog (mais precisamente, aqui), que é a efemeridade de nossas vidas e da falta que o fim de nossa existência causaria. Cada vez que leio estes parágrafos, minha certeza é aumentada: gênios serão sempre gênios, atemporais.

"Veja o que você agora representa nesta casa: tudo para eles! Seus amigos lhe têm consideração e estima, você dá a eles muitos momentos de alegria e supõe que seu coração não poderia viver sem eles. No entanto... se você partisse, se desaparecesse desse círculo, por quanto tempo sentiriam o vazio que a sua ausência lhe causaria? Por quanto tempo?..."
Ah! o homem é tão efêmero que, mesmo onde está verdadeiramente seguro de sua existência, no único lugar em que sua presença produz uma impressão real- na memória e no coração dos amigos - mesmo ali ele vai apagar-se e desaparecer, e logo!" (Johann von Goethe)

domingo, julho 31, 2011

31/07/2011

"Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?"  
(Luís Vaz de Camões) 

Distância, tempo e vida: o que foi que vocês fizeram?!

segunda-feira, junho 27, 2011

Fragilidade invernal

Tudo está bem. Começam a cair as folhas das árvores e os primeiros ventos sopram.
O sol aparece, tímido nos dias nublados,  mas resplandecente e alaranjado nos demais.
Maio passa, as árvores estão despidas, os galhos começam a secar.
Junho. O inverno chega.
E agora sim, tudo está limpo. Vazio, nítido. Claro e arejado. Simples.
Os pensamentos estão assim também, claros, arejados, simples. A diferença é que a claridade e a simplicidade que esses ganham se dá pelo fato de serem poucos, quase nenhum.
À medida que as folhas vermelhas das árvores cansadas do outono caem, as ideias, as certezas, e tudo que parecia duradouro e estável começa a desaparecer.
No fim de maio são só pequenas amostras do que costumavam ser, e quando junho emerge no horizonte, já não se sabe mais de nada.
Tudo cai por terra e todos os dogmas são descartados. Toda a segurança vai embora, e não há mais como ser segura de si. 
Como se a passagem do tempo lhes colocasse sobre os galhos finos das árvores que secaram: pendem para o lado do vento fraco; quebram-se ao meio se os ventos fortes e decisivos lhe alcançarem.

terça-feira, março 01, 2011

Riqueza ou dinheiro? Pelo que buscas?

Numa civilização onde você é o que você tem, criar falsas expectativas e adorar falsos deuses da futilidade passa a ser um risco que se corre. Eis o que acontece hoje em dia: o dinheiro, grande facilitador da vida moderna, passa a ser visto como a solução para grande parte dos problemas que nos acometem.
A falsa visão que se tem sobre a riqueza, geralmente adotada pelas classes de baixa renda, acaba por ser um fator que ajuda a desbancar outros valores da sociedade.
As classes média e baixa, em busca de um padrão de vida melhor e de felicidade aparente, procuram enriquecer a qualquer custo. E, para eles, passar por cima de princípios primordiais da sociedade parece um preço bom à pagar.
Uma vez ricos, esses param de se preocupar com o real motivo da existência humana. Ganhar mais, e adquirir as tecnologias de ponta, passam a ser necessidades fundamentais. O trabalho sobrepõe-se ao lazer. As bolsas da moda imperam nas listas de presente de natal. Ao mesmo tempo, aquele ideal de vida perfeita, que se tinha no início, vai se esvaindo de suas vidas.
Enquanto isso, os ricos de longa data, desfilam com sua felicidade à mostra e, muitas vezes, nem a roupa da moda vestem.
Percebe-se então, que o segredo não está no dinheiro, muito menos no trabalho em excesso, ou na corrupção. Vê-se que o segredo da felicidade almejada é saber dar o devido valor à que realmente importa - independentemente da conta bancária.
Aquela máxima, portanto, que diz que o dinheiro não traz felicidade, merece ser corrigida: o dinheiro traz, sim, felicidade. Mas em contrapartida, a leva de volta se não souberes dar valor às coisas certas; se não enxergares o essencial que se faz invisível aos olhos.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Digo e repito:

Quando morreres, morrerás sozinho. Do mesmo modo que nasceste só, assim terminarás.
Não haverá amigo, irmão, pai ou amante que tome seu lugar na hora da morte. E não haverá amigo, irmão, pai ou amante que vá perder tudo o que tu perderás com o fim da vida.
As experiências que passaram e as que ainda estão por vir são únicas, exclusivas, e têm um significado diverso para cada pessoa. Ao morrermos, nossas experiências cessam: as que passamos, caem no esquecimento; as que estão por vir, nunca virão. 
Porém, ao morrermos, outras vidas continuam.
Não haverão amigos, pais, irmãos ou amantes que parem e percam sua bagagem. Não haverá aquele que parará de viver ao mesmo tempo que você.
Não haverá vida que não continuará; mesmo manca e abatida, ela seguirá.
Somos seres passageiros. A vida, assim como o amor, também passa.

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

10/02/2011

Estranho como, em pleno verão do hemisfério sul, os dias conseguem ser tão úmidos como são agora.
Posto que o sol insiste em queimar lá no alto, fazendo com que cada gotícula de água que exista sobre o solo evapore, percebi então:  a chuva, nada mais é do que o desejo desesperado de uma nuvem por tocar o chão. O desejo de voltar para seu lugar de origem, sua casa .Este, é tão grande e avassalador que, o sacrifício de tornar-se milhões de gotas parece um preço justo à pagar para realizá-lo.
Porque, uma vez que estiver em casa, cada uma das gotas encontrará em si mesma a força necessária para se reunir às demais e continuar o ciclo de vida.


"Chuva sucks", by Marco.