sexta-feira, agosto 17, 2012

la première


Ter a inocência. Do primeiro beijo, do primeiro amor, da primeira valsa. Do primeiro abraço bem dado, do primeiro aperto de mão de verdade, do primeiro amor feito.

Fazer algo pela primeira vez tem sempre aquele gosto novo, aquela sensação de "posso fazer tudo que eu quiser; errar o quanto quiser; afinal, posso melhorar na próxima vez". Tem sempre aquela irresponsabilidade gostosa da gente para com as coisas novas. A vontade de descobrir, de ver até onde vai. Ao mesmo tempo, aquele descompromisso, aquela leveza.

O primeiro passo de dança. AH! que saudade que dá! Saudade de poder pisar no pé de quem ensina e dessa pessoa nem reclamar, porque aquela vez é a primeiríssima.

Mas e quanto às danças, os amores, os beijos e os abraços?  Que já conhecem o jeito certo, que já sabem como ser, que já perderam a inocência.... quanto à eles? Ninguém pensa que o beijo se cansa de não saber ser bem beijado, ou o amor se cansa de não saber ser amado? Ninguém imagina que a valsa vienense se cansou de sempre ter um aprendiz?

Eles queriam que, por uma vez, não fossem os que ensinam, os que dão a chance à ingenuidade. Eles queriam que por uma vez, um bom beijador, amante ou dançarino, lhes viesse e mostrasse a melhor forma de fazê-lo, que não deixasse erros, que não deixasse espaço pra se cansar.

Eles queriam, por uma vez, aprender a ser. De novo. Queriam poder não ter paciência, não ter a bondade; fazer pirraça. Queriam poder ser pra sempre virgens.  


Queriam poder dar asas ao egoísmo - e serem compreendidos como se compreende uma primeira vez.

Nenhum comentário: